Estima-se que cerca de 5% dos atendimentos em ambulatório não recebam um diagnóstico correto, o que impacta todo o tratamento.
Falhas no diagnóstico são a principal causa de prejuízos a pacientes no mundo todo. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), esses erros representam 16% dos danos evitáveis que um paciente pode sofrer. Isso inclui eventos graves ou até mesmo catastróficos, ou seja, quando há danos permanentes ou morte.
Estima-se que cerca de 5% dos atendimentos em ambulatório não recebam um diagnóstico correto, o que impacta todo o tratamento. Nos Estados Unidos, por exemplo, isso significa entre 40 mil e 80 mil casos todos os anos.
Mas nesse caminho pode haver várias falhas. Segundo Janot, as principais são as que envolvem o fator humano, principalmente as tomadas de decisão dos médicos. “Os pacientes podem apresentar sintomas que são ambíguos ou inespecíficos e induzir conclusões equivocadas. Febre ou náusea e vômitos, por exemplo, são sintomas que podem estar por trás de algo muito simples ou muito grave”, exemplifica o médico intensivista.
Uma dor no peito tratada como ansiedade pode ser uma embolia pulmonar maciça, por exemplo. Mesmo os ataques cardíacos podem apresentar sintomas fora do comum, como dor abdominal. “O médico deve tomar a decisão de forma mais analítica, considerando todas as possibilidades”, diz Janot.
Dentre os vários fatores que levam a diagnósticos errados, um dos principais é a falha na comunicação, segundo Aline Pedroso. Isso inclui desde pacientes que não fornecem todas as informações do seu histórico até profissionais que não dialogam entre si. “Ainda que o diagnóstico seja um ato médico, o processo diagnóstico é um trabalho em equipe, incluindo o paciente, equipes multidisciplinares e multiprofissionais, mas o cuidado ainda é muito fragmentado”, avalia Pedroso. Daí a necessidade de mais integração entre as diversas equipes envolvidas.
Também pode haver problemas de treinamento, coordenação de cuidado e de protocolos. Sem contar o papel do paciente, que é essencial. “Muitas vezes, o paciente chega tarde ao sistema de saúde, ou não adere ao tratamento, ou não conta toda a verdade”, observa Janot. “Por isso, devem ser encorajados a participar do processo diagnóstico, perguntar, detalhar seu histórico e conhecer todo o seu tratamento”, diz o médico. A enfermeira concorda: “Temos que envolvê-lo para que ele se torne parte do processo.”
A boa notícia é que é possível reduzir os riscos dessas falhas. “Mas, para isso, é preciso uma grande mudança cultural”, frisa Janot. “Tanto do lado dos profissionais da saúde quanto das pessoas que buscam atendimento.”
Fonte: Acorda Cidade