Busca por qualidade de vida, trabalho remoto e segurança explicam êxodo urbano que fez Salvador perder população

A busca por mais qualidade de vida, o trabalho remoto e a falta de segurança pública são fatores que ajudam a explicar o êxodo urbano que fez Salvador perder 257.651 habitantes nos últimos 12 anos. Os dados são do Censo 2022 e foram apurados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

capital baiana foi a cidade brasileira que mais perdeu população entre todos os 5.568 municípios brasileiros. Os quase 260 mil moradores a menos representam uma fatia de 10,6% do total da população atual, que é de 2.418.005 pessoas.

Êxodo urbano é o termo usado para explicar a migração de pessoas que saem das grandes cidades para regiões menores, em busca de uma vida com menos intervenções externas e mais tranquilidade. E a pandemia pode ter influenciado na busca por melhores condições de bem-estar.

“Sabemos que houve uma mudança importantíssima na forma de viver a partir da pandemia: o teletrabalho se tornou mais comum; criaram-se ferramentas que facilitaram às pessoas morarem em um lugar e trabalhem em outro tranquilamente. Isso facilitou a busca pela qualidade de vida e por espaços mais amplos”, exemplificou a supervisora de informações do IBGE, Mariana Viveiros.

A advogada Louise Mascarenhas, por exemplo, mudou de endereço exatamente neste contexto. Ela saiu de Salvador e foi para Santo Antônio de Jesus, cidade que fica localizada no Recôncavo Baiano, com atuais 103.055 moradores e ar acolhedor de interior.

“Eu e minha família mudamos em busca de melhor qualidade de vida, nas circunstância do isolamento social, para ficar mais perto de uma parte da família, que já morava aqui [Santo Antônio de Jesus]. Mudamos de um apartamento para uma casa, na qual há mais vivência social e contato, mesmo que de longe, com os vizinhos”, descreveu.

Cidade de Santo Antônio de Jesus, na Bahia — Foto: Divulgação/Luciano Almeida

Cidade de Santo Antônio de Jesus, na Bahia — Foto: Divulgação/Luciano Almeida

Louise disse que a dinâmica dos municípios é muito diferente e não há a praticidade, por exemplo, de encontrar supermercados abertos a qualquer momento, além de um shopping center. No entanto, os pontos positivos se evidenciam.

“As distâncias dentro da cidade são menores, não há grande engarrafamento, há muita oferta de frutas e verduras fresquinhas e o comércio, apesar da limitação de horários, sempre dá a possibilidade de levar produtos até sua casa. Você pode experimentar e devolver no dia seguinte o que não quiser”, argumentou.

“Pelo fato de serem as distâncias mais curtas entre os lugares, isso nos permite ir almoçar em casa nos dias de trabalho, por exemplo, e não levar tanto tempo até chegar em casa, após o expediente. Parecem coisas bobas, mas fazem diferença na qualidade de vida”.

 

Mais oportunidades em outros espaços

 

Salvador vista pelo bairro Cidade Jardim — Foto: Silvya Vieira/Arquivo Pessoal

Salvador vista pelo bairro Cidade Jardim — Foto: Silvya Vieira/Arquivo Pessoal

Esse êxodo não é um movimento que atinge exclusivamente a capital baiana, mas também outras cidades brasileiras, como o Rio de Janeiro, que perdeu quase 2% de população, Belo Horizonte (-2,5%), Recife (-3,2%), Porto Alegre (-5,4%) e Belém (-6,5%).

“É um movimento que já acontece em países da Europa, nos Estados Unidos, e que revela um pouco a saturação das grandes cidades, em diversos aspectos. A gente também sabe que Salvador tem uma natalidade em queda. A gente teve, em 2021, o menor número de nascimentos em 48 anos. A cada ano vem nascendo menos crianças”, destacou Mariana.

A falta de oportunidades de emprego também gera a migração de habitantes. Só que, diferentemente do período entre as décadas de 1960 e 1980, quando houve o pico do êxodo rural brasileiro e a evasão em direção às cidades grandes, agora há um movimento reverso.

Centro de Luís Eduardo Magalhães — Foto: Divulgação/Secom

Centro de Luís Eduardo Magalhães — Foto: Divulgação/Secom

Luís Eduardo Magalhães foi a cidade interiorana para onde mais se migrou na Bahia, com 79,5% de alta populacional. O crescimento do oeste baiano, como um todo, se deve ao avanço da região como polo de produção agrícola O município é, inclusive, o maior exportador de grãos do estado baiano.

Mariana Viveiros explica que a alta não se trata de um crescimento vegetativo, que é o indicador responsável pela diferença entre nascimentos e mortes, mas sim um avanço migratório, da chegada de pessoas para habitar a cidade.

“As pessoas se mudam por segurança, emprego, condições de vida, qualidade de vida. Tudo isso interfere nas decisões das pessoas, das famílias, de se mudarem. As cidades que têm um dinamismo econômico maior, que oferecem alternativas de trabalho e de estudo, elas costumam ser atrativas para as populações, então elas costumam atrair migrantes, e é o caso de Luís Eduardo Magalhães”.

Quando sair do país é uma opção

 

A enfermeira Priscila Leal deixou Salvador para ter qualidade de vida no Canadá — Foto: Arquivo pessoal

A enfermeira Priscila Leal deixou Salvador para ter qualidade de vida no Canadá — Foto: Arquivo pessoal

Para algumas pessoas que deixaram Salvador, a busca por uma vida melhor representou, inclusive, uma mudança de país. Esse foi o caso da enfermeira Priscila Leal, que deixou a capital baiana há 10 anos – pouco depois da realização do Censo 2010.

No caso de Priscila, a mudança foi motivada principalmente pela falta de emprego na área que atua. Diversas pesquisas apontam que o impacto financeiro é o fator que mais estressa os brasileiros, acarretando na perda significativa da qualidade de vida.

“Tinha acabado de me formar em enfermagem e não consegui emprego de jeito nenhum. Acho que enviei currículos pessoalmente em todos os hospitais de Salvador na época, e não tinha conseguido nem uma entrevista de emprego. Isso estava me deixando totalmente desmotivada”.

 

Com a irmã voltando de Londres, a ideia de migrar para outro país representou uma possibilidade de avanço profissional. Ao pesquisar locais mais fáceis para adaptação de novos estrangeiros, Priscila descobriu no Canadá um novo lar.

“Quando a gente começou a pesquisar, vimos que a demanda de enfermagem aqui [no Canadá] era muito grande, então achei que seria uma oportunidade incrível migrar para outro país e ainda poder trabalhar na minha área”.

 

A busca por uma boa educação e a sensação de segurança pública também são pontos cruciais para quem migra buscando uma vida mais estável. No caso de Priscila, o impacto desse último quesito também foi positivo.

“Aqui ando na rua a qualquer hora. Não tenho medo de ser assaltada, não tenho medo de levar um tiro. Já estou aqui há dez anos e nunca fui assaltada, nunca vi uma arma de fogo”.

Fonte: G1

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