Mais de 50% dos brasileiros estão com obesidade ou peso acima da média, aponta estudo
O excesso de peso, e a obesidade, são assuntos que desde sempre estiveram presentes na sociedade e que, ao mesmo tempo, geraram ao longo dos anos diversas discussões no âmbito da saúde evidenciando causas como má alimentação, fatores psicológicos como ansiedade, compulsão alimentar, dentre outros.
Realizado pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel) em parceria com a organização global de saúde pública Vital Strategies, um estudo divulgado no final de junho alertou que, atualmente, 56,8% dos brasileiros está com excesso de peso. A quantidade percentual seria a soma de pessoas com sobrepeso e obesidade, ou seja, com índice de massa corporal (IMC) igual ou acima de 25.
O tema, embora questão de saúde, também é polêmico. Tem sido muito comum debates calorosos em torno destes assuntos que levantam casos de preconceitos, como a gordofobia, questionando qual seria o “peso ideal” e como isso deve ser levado como uma questão de saúde. Os constantes casos de discriminação, inclusive, têm provocado problemas psíquicos em muitas pessoas ‘obesas ou com excesso de peso’.
A pesquisa divulgada traz ainda o dado de que a taxa chega a 68,5% entre 45 e 54 anos e a 40,3% entre os mais jovens, com 18 a 24 anos. Além disso, 10,3% da população têm diagnóstico médico de diabetes.
Segundo a endocrinologista e coordenadora do Centro de Referência de Obesidade do Estado da Bahia, Tereza Arruti, a preocupação principal que deve ser levada a sério está no fato de que a obesidade leva a uma maior probabilidade de adquirir comorbidades, agravando riscos de morte.
De acordo com dados do Centro baiano, 88% dos pacientes com obesidade tem hipertensão arterial e 78% tem diabetes tipo 2, dentre outros problemas como osteoporose, artrose e etc. “Se você trata a obesidade reduz as comorbidades que vem com ela”, acrescenta Tereza Arruti.
Ainda conforme a pesquisa da UFPel, em parceria com a Vital Strategies, os grupos mais afetados são pessoas com 65 anos ou mais (26,2%) e pessoas com até oito anos de escolaridade (15,7%). Quando se trata de hipertensão arterial, 26,6% dos brasileiros receberam o diagnóstico, com maiores prevalências entre mulheres (30,8%), idosos com mais de 65 anos (62,5%) e aqueles com até oito anos de escolaridade (38%). Entre os mais escolarizados, a prevalência cai para menos da metade (15,6%).
Estar acima do peso pode ser prejudicial | Foto: Romildo de Jesus
Para a coordenadora do Cedeba, a questão da obesidade como doença crônica está ligada a uma mudança de hábito e a uma modificação socioeconômica, inclusive com a falta de educação alimentar, o consumo de produtos ultra processados, a correria do dia a dia, a busca por alimentação rápida como fasts foods e também à falta de atividades físicas.
Apesar de tantos fatores e questões sobre a obesidade, é preciso causar uma conscientização social que combata a gordofobia. “Estamos falando de saúde física ou de saúde mental? Falando sobre comorbidades. Tem pacientes com 30 anos, massa corporal alta que não tem nada, mas estão profundamente infelizes por causa dos preconceitos. Obeso saudável, pode ser, não é possível determinar até onde, mas ele pode estar feliz ou muito infeliz”.
Já a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM) esclacere que evidências científicas mostram que o aumento de peso não ocorre apenas por falta de disciplina ou de responsabilidade pessoal, mas sim por efeitos biológicos, metabólicos e genéticos.
Questões psicológicas – A psicóloga e psicoterapeuta junguiana, Bianca Reis, lembra que a obesidade crônica pode ter como consequências várias questões psicológicas. “ A ansiedade, por exemplo. Muitas vezes pessoa que está com ansiedade muito alta, tem por exemplo a insônia, acaba sentindo fome, acaba assaltando a geladeira a noite. Ou a compulsão alimentar: come de forma excessiva, faz uma dieta hipercalórica, ao invés de uma dieta hipocalórica”, pontua.
Mestre em Família, a psicóloga diz, por exemplo, que muitas vezes a compulsão alimentar começa aos poucos e pode ser causada por traumas, vazios existenciais e angústias que podem ser tratadas.
“A comida é um alimento compensatório, é um prazer imediato. Na vida, várias coisas prazerosas e benéficas precisamos de tempo, só que a comida ocupa esse lugar de prazer imediato, de sentir literalmente preenchido, e existem pessoas que fazem esse movimento facilmente e preenchem vazios, angustias, com alimentos”, afirma.
No entanto, é fundamental que a sociedade entenda que a dieta restritiva em excesso também não favorece diminuição de peso e pode agravar sintomas psicológicos.
“A compulsão também pode vir com a restrição, quando cortamos tudo de vez na nossa vida. Ficamos na necessidade. A dieta restrita extrema, quando ela tem a oportunidade de comer uma fatia de bolo, mais equilibrada, é comum que vá para outro pólo, a compulsão”.
A sociedade, e não só a pessoa com obesidade crônica, também tem a tarefa de contribuir para amenizar o problema: sem julgamentos, sem apontar dedo, sem ficar dando conselhos ou pitacos nos corpos alheios.
“São muitos julgamentos que essas pessoas passam, por parte de quem não sabe o porquê daquela situação, se é depressão, se é hormonal, se é trauma, se é compulsão”. Para Reis, a depressão está muito ligada aos casos de compulsão alimentar. “A consciência e o saber é o primeiro passo para entender”.
Fonte: Tribuna da Bahia